quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Quando a sirene toca

Por Enildo Luiz Gouveia



            Novamente, sinto-me motivado a escrever sobre Educação. Na verdade, sendo professor, a motivação é uma constante dada à complexidade que esta questão vem assumindo ao longo do tempo e particularmente, no momento atual. Espanta-me como muita gente reduz a problemática da Educação a um aspecto meramente salarial ou de estrutura etc. Sou defensor da ideia de que uma análise a qual considera a Cultura seja bem mais pertinente. É preciso observar o que vai além da escola para poder entendê-la. Nesse sentido, a visão e as expectativas que tanto a família quanto a sociedade têm em relação à Educação assumem papel de destaque.

            Tenho a grada satisfação de morar próximo a um anexo de escola de ensino fundamental. Sempre que posso, até pelo fato de atuar na área, observo o comportamento de pais, mães, responsáveis, professores, gestores e, claro, dos alunos. Vários são os aspectos que me fazem estar cada vez mais inquieto: falta de professores e professores que faltosos, pais e responsáveis que encaram a escola como simples obrigação cotidiana, crianças que não entendem porque devem ir à escola, os eventos que reproduzem a cultura do consumo e que ignoram o preceito de uma educação laica e respeitadora dos direitos humanos e da diversidade. No entanto, nada tem me chamado mais a atenção que o horário da largada assinalado pelo tocar da sirene.

            Logo de manhã e também durante a tarde e a noite, não há nenhuma festa no horário de entrar na escola. Sinceramente, alguns alunos, de tão desmotivados, parecem entrar num campo de concentração. Após intermináveis aulas, eis que chega o horário da largada. Aí sim, ouço gritos de alegria por parte dos alunos. No semblante dos professores um alívio, no semblante de muitos pais e responsáveis o desejo de que seus filhos permanecessem um pouco mais na escola, não exatamente para aprender, mas sim para dar-lhes sossego.

            Há quem procure um bode expiatório para esta situação. Eu prefiro assumir minha parcela de culpa e responsabilidade. Cabem a família e a sociedade fazer o mesmo. Enquanto acharmos que a Educação só se faz na escola e que esta será a salvadora da pátria, continuaremos a amargar o fraco desempenho da maioria dos alunos, a falta interesse pelo conhecimento (que difere de informação), os baixos salários e estruturas capengas e a nos iludir com promessas de que Educação é prioridade. Resta-nos perguntar: Pra quem e pra quê? Que a resposta nos venha antes que a sirene toque.







Professor de Geografia, poeta e compositor.


www.agentevai.blogspot.com