Educação



















Quando a sirene toca


Por Enildo Luiz Gouveia



            Novamente, sinto-me motivado a escrever sobre Educação. Na verdade, sendo professor, a motivação é uma constante dada à complexidade que esta questão vem assumindo ao longo do tempo e particularmente, no momento atual. Espanta-me como muita gente reduz a problemática da Educação a um aspecto meramente salarial ou de estrutura etc. Sou defensor da ideia de que uma análise a qual considera a Cultura seja bem mais pertinente. É preciso observar o que vai além da escola para poder entendê-la. Nesse sentido, a visão e as expectativas que tanto a família quanto a sociedade têm em relação à Educação assumem papel de destaque.

            Tenho a grada satisfação de morar próximo a um anexo de escola de ensino fundamental. Sempre que posso, até pelo fato de atuar na área, observo o comportamento de pais, mães, responsáveis, professores, gestores e, claro, dos alunos. Vários são os aspectos que me fazem estar cada vez mais inquieto: falta de professores e professores que faltosos, pais e responsáveis que encaram a escola como simples obrigação cotidiana, crianças que não entendem porque devem ir à escola, os eventos que reproduzem a cultura do consumo e que ignoram o preceito de uma educação laica e respeitadora dos direitos humanos e da diversidade. No entanto, nada tem me chamado mais a atenção que o horário da largada assinalado pelo tocar da sirene.

            Logo de manhã e também durante a tarde e a noite, não há nenhuma festa no horário de entrar na escola. Sinceramente, alguns alunos, de tão desmotivados, parecem entrar num campo de concentração. Após intermináveis aulas, eis que chega o horário da largada. Aí sim, ouço gritos de alegria por parte dos alunos. No semblante dos professores um alívio, no semblante de muitos pais e responsáveis o desejo de que seus filhos permanecessem um pouco mais na escola, não exatamente para aprender, mas sim para dar-lhes sossego.

            Há quem procure um bode expiatório para esta situação. Eu prefiro assumir minha parcela de culpa e responsabilidade. Cabem a família e a sociedade fazer o mesmo. Enquanto acharmos que a Educação só se faz na escola e que esta será a salvadora da pátria, continuaremos a amargar o fraco desempenho da maioria dos alunos, a falta interesse pelo conhecimento (que difere de informação), os baixos salários e estruturas capengas e a nos iludir com promessas de que Educação é prioridade. Resta-nos perguntar: Pra quem e pra quê? Que a resposta nos venha antes que a sirene toque.







Professor de Geografia, poeta e compositor.


www.agentevai.blogspot.com










Técnica e Reflexão

 Enildo Luiz Gouveia

         Estabelecer uma relação crítica entre o arcabouço absolvido durante anos (na escola e universidade) e a realidade mutante da atualidade é um dos maiores desafios para a mente humana e particularmente para aqueles que resolvem apostar nos estudos, superando a média nacional.  Parece-me que o senso crítico, sobretudo em relação às questões políticas e culturais foi abolido em detrimento de uma obediência e reprodução de ideias, valores e “filosofias de boteco” no dia-a-dia. Como me disse uma ex-aluna: Pensar cansa professor!
         Em meio ao frenesi econômico que se instalou em Pernambuco principalmente em função do Complexo Industrial e Portuário de Suape, temos agora uma corrida de milhares de jovens buscando desesperadamente a qualificação técnica. Por razões diversas, estes jovens não tiveram uma história de sucesso na escola. Paralelo a isto, há um desinteresse quase generalizado pela educação formal. Será que voltamos aos Tempos Modernos do Chaplin? Penso que sim.
A qualificação técnica de legiões de analfabetos funcionais implica em pessoas tecnicamente hábeis, todavia, reflexivamente fúteis. Por si só, o fato de ter um emprego e salário, bem como, cursar o ensino técnico ou superior, não implica dizer que as pessoas se tornaram humanamente melhores. Daí que concordo com Paulo Freire quando o mesmo afirma que  “Formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas.
         Os elevados investimentos destinados pelo governo federal e estadual para a qualificação técnica contrastam com a realidade da educação pública brasileira: Escolas superlotadas de gente desinteressada, aprovação em massa através de programas e artimanhas milagrosas, professores sem qualificação necessária e sem remuneração digna, falta de estrutura (há escolas em Pernambuco que as salas além de pequenas são extremamente quentes). Mas, alguém já viu as salas para cursos técnicos? Tem ar-condicionado, professores com salários melhores e alunos interessados que recebem um incentivo em dinheiro para estudar.
         A questão fundamental deste artigo não é ser contra a qualificação técnica. Muito pelo contrário. Não há progresso sem técnica. Mas, treinar  máquinas para apenas gerar riquezas contribui para o fracasso social presenciado diariamente por todos nós. Gostaria de ver um ensino que estimulasse as pessoas a ler literatura, ir ao teatro, ser voluntário, votar consciente, respeitar o meio ambiente, pensar globalmente, ouvir músicas de qualidade, valorizar a tradição e ser tolerante. Penso que só assim poderemos pensar em um Brasil com igualdade social, com economia forte e culturalmente desenvolvido.






Aos mestres, sem qualquer carinho!

Enildo Luiz Gouveia

Somos aqueles numerosos profissionais insatisfeitos com a profissão. Diria melhor, não com a profissão em si, em geral, com os salários pagos. Limitados e impregnados pelas tentações capitalistas onde muitos exercem determinada função para apenas ganhar dinheiro e, sendo este o aspecto mais valorizado na sociedade brasileira, poucos possuem vocação e paciência para exercer o magistério.

Somos aqueles que reclamam quase que diariamente do desempenho dos estudantes, mas, dificilmente reconhecemos a necessidade de nos capacitarmos sempre (triste é ver colegas que fazem uma especialização com o único objetivo de ganhar a miserável gratificação por titulação paga pelo Estado de Pernambuco). Aqueles que na maioria das vezes reforçam a propaganda da violência e a alienação cultural dos nossos jovens nos eventos ditos culturais das escolas.

Somos também, em número considerável, milhares de abnegados profissionais que ensinam e aprendem e tentam construir um novo modelo de sociedade pautada na solidariedade e na tolerância ao diverso. Aqueles que lêem inclusive nos feriados e fins de semana compram livros paradidáticos e literatura, participam de encontros formativos e científicos, acessam e produzem informações na net ao invés de sites de relacionamentos. Aqueles que pensam em dar sempre uma melhor aula a cada dia e, ao final do ano, são apontados como os únicos culpados por eventuais insucessos dos estudantes.

A sociedade diz que acredita na educação. Os políticos dizem que ela é a prioridade. Mas ninguém é capaz de estimular quem quer que seja a seguir o magistério. Pelo menos não no ensino básico. Sendo assim, em um futuro próximo, teremos escolas cada vez mais lotadas e sem professores. Talvez nesse momento todos nós possamos perceber quão grande injustiça está sendo feita com os nossos professores e com a educação. Quando este dia chegar, meu medo é que possa ser tarde demais. 

O dia 15 de Outubro é considerado Dia do Professor (a). Todos nós docentes, a sociedade e os políticos deveríamos  refletir sobre isto.

Feliz Dia do Professor (a)!



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