sexta-feira, 27 de abril de 2012


E a Lavadeira se foi

Enildo Luiz Gouveia

            Dia 1º de Maio, Dia do Trabalhador, é também o dia da Lavadeira, ou melhor, da Festa da Lavadeira. O maior encontro de cultura popular regional do país congrega grupos e artistas de vários estados especialmente do Nordeste. A festa comemora sua 26ª edição provando que é possível promover eventos com grande público e ao mesmo tempo, contrariando muitos produtores e gestores públicos, manter a coerência e o apoio em relação aos verdadeiros construtores da nossa identidade do nosso povo.

            A Festa da Lavadeira nasceu da experiência de vida e da religiosidade popular numa relação indissociável entre o sagrado e o profano. Daí a beleza e a importância de sua continuidade. Lamentavelmente, acredito que por pressões do poder econômico e da falta de sensibilidade do poder local, a festa este ano não será realizada na Praia do Paiva no município do Cabo de Santo Agostinho, locus de sua concepção e sim, no Recife Antigo.

Com mais esta diáspora cultural, o município do Cabo, que apresenta um dos maiores crescimento econômico do país, ratifica seu ostracismo cultural. Sua população ano a ano, assiste passivamente o declínio de sua cultura em detrimento de expressões e eventos que sugam o dinheiro público e nada acrescentam à nossa identidade. Basta olhar, por exemplo, a programação do último Festival da Juventude do Cabo que pretensamente homenageou o centenário de Luiz Gonzaga, mas, que não contou com nenhuma participação de grupos ou artistas ligados ao ritmo e à cultura defendida pelo Rei do Baião. Ou será que alguém é tão ingênuo ao ponto de achar que Cavaleiros do Forró representa o autêntico forró nordestino?

A Lavadeira que já figurou em estudos acadêmicos como no caso do artigo de Iris Maria Cunha Lustosa (doutoranda em Geografia pela Universidade Federal de Goiás) que a caracterizou como um “santuário festivo e turístico” se foi. Perdemos todos nós! O que nos resta então? Sucumbir aos modismos que florescem com hora certa pra acabar e não deixam sequer saudades? Antes do adeus da Lavadeira se foram também o Encontro de Poetas Recitadores, a Festa da Ouriçada, o Encontro Pernambucano de Coco, o Festival Nacional de Teatro do Cabo e tantas outras expressões. As que resistem estão na penúria pela sobrevivência. A Lavadeira se foi e eu, como tantos outros, me vou também. Vou prestigiá-la e rezar para que um dia as coisas mudem, antes que se vão as nossas últimas esperanças.