E
a Lavadeira se foi
Enildo Luiz
Gouveia
Dia 1º de Maio, Dia do Trabalhador,
é também o dia da Lavadeira, ou melhor, da Festa da Lavadeira. O maior encontro
de cultura popular regional do país congrega grupos e artistas de vários
estados especialmente do Nordeste. A festa comemora sua 26ª edição provando que
é possível promover eventos com grande público e ao mesmo tempo, contrariando
muitos produtores e gestores públicos, manter a coerência e o apoio em relação
aos verdadeiros construtores da nossa identidade do nosso povo.
A Festa da Lavadeira nasceu da
experiência de vida e da religiosidade popular numa relação indissociável entre
o sagrado e o profano. Daí a beleza e a importância de sua continuidade.
Lamentavelmente, acredito que por pressões do poder econômico e da falta de
sensibilidade do poder local, a festa este ano não será realizada na Praia do
Paiva no município do Cabo de Santo Agostinho, locus de sua concepção e sim, no Recife Antigo.
Com mais esta diáspora cultural, o
município do Cabo, que apresenta um dos maiores crescimento econômico do país,
ratifica seu ostracismo cultural. Sua população ano a ano, assiste passivamente
o declínio de sua cultura em detrimento de expressões e eventos que sugam o
dinheiro público e nada acrescentam à nossa identidade. Basta olhar, por
exemplo, a programação do último Festival da Juventude do Cabo que
pretensamente homenageou o centenário de Luiz Gonzaga, mas, que não contou com
nenhuma participação de grupos ou artistas ligados ao ritmo e à cultura defendida
pelo Rei do Baião. Ou será que alguém é tão ingênuo ao ponto de achar que
Cavaleiros do Forró representa o autêntico forró nordestino?
A Lavadeira que já figurou em estudos
acadêmicos como no caso do artigo de Iris Maria Cunha Lustosa (doutoranda em
Geografia pela Universidade Federal de Goiás) que a caracterizou como um
“santuário festivo e turístico” se foi. Perdemos todos nós! O que nos resta
então? Sucumbir aos modismos que florescem com hora certa pra acabar e não
deixam sequer saudades? Antes do adeus da Lavadeira se foram também o Encontro
de Poetas Recitadores, a Festa da Ouriçada, o Encontro Pernambucano de Coco, o
Festival Nacional de Teatro do Cabo e tantas outras expressões. As que resistem
estão na penúria pela sobrevivência. A Lavadeira se foi e eu, como tantos
outros, me vou também. Vou prestigiá-la e rezar para que um dia as coisas
mudem, antes que se vão as nossas últimas esperanças.
Se foi, mas agora todo dia 01 de maio haverá o Boi Nativo, inaugurado esse ano de 2012, e que continuará o brinquedo na praia de Itapoama!
ResponderExcluirPartilho com meu amigo poeta a sua dor, mesmo sendo do sertão e agora neo-potiguar como diria o caro geógrafo...
ResponderExcluirSoube das alterações e fiquei curiosa pra ver como ficaria a festa. Acreditei que seria uma outra versão (bastante semelhante) do carnaval. Lembro do amigo Enildo falando bem dos projetos culturais do Cabo. Aprecio o belíssimo trabalho do Toadas de Pernambuco que até hoje utilizo seus sons em minhas oficinas. Vamos seguir em frente e plantar em nossas crianças a semente do que é bom, pois até elas já estão bem deterioradas